A PSICOPEDAGOGIA RUMO AOS NOVOS DESAFIOS EDUCACIONAIS

A educação e o desejo pela docência sempre estiveram presentes em minha vida. Quando pequena, adorava convidar os vizinhos e os meus irmãos, para brincarem de escolinha. O portão da garagem, era a minha “lousa”. As folhas em branco, dos cadernos já usados, se transformavam em cadernetas e em pautas do planejamento pedagógico. Claro, os convidados eram os alunos. A vaga de “professora” era sempre minha.
Brincadeiras à parte, era assim que eu imaginava a minha vida.
Ao finalizar o ensino médio, a primeira decisão que tomei, foi iniciar o curso de Pedagogia. Aos 17 anos, sendo a menor da turma e a menos experiente, me encantava todas as noites, pelas aulas e principalmente, pela maestria dos meus professores, que sem dúvida, contribuíram em todos os aspectos, para que a certeza, pela carreira pudesse ser despertada ali. Carrego-os pra sempre em minha memória e em meu coração.
Embora tivesse feito estágio em alguns colégios da cidade, foi na escola Bem Querer, que pude me desenvolver integralmente enquanto pessoa e profissional. Foram 6 anos, dedicados a coordenação pedagógica, à docência e ao final, à psicopedagogia institucional. Tive uma diretora muito especial, que confiou em mim e deu-me total liberdade as minhas ideias e loucuras. Ali fiz grandes amizades, conheci famílias incríveis e fui imensamente feliz, ao lado das crianças que passaram por lá. Hoje resta apenas uma grande saudade que existirá para sempre.
Em 2015, recebi um convite bastante inesperado. Assumir aulas na pós graduação, nunca fora um objetivo profissional. Mas, novamente, as pessoas certas cruzaram o meu caminho. A Sueli Pauli, que havia sido minha coordenadora e professora, no curso da Psicopedagogia, me convida para atuar ao seu lado. Que honra e quanta gratidão. Apenas com 2 anos de formação e atuação clínica, aceitei o desafio e hoje, sou muito realizada, com os meus grandes alunos.
Nessa mesma época, ingressei na rede municipal e lá permaneci durante 2 anos. Novamente, as parcerias, confiança e credibilidade que foram cedidas a mim, possibilitaram a desenvoltura de grandes trabalhos, um deles, sendo reconhecido posteriormente em dois eventos científicos de porte nacional: Congresso Aprender Criança 2016, que aconteceu em Ribeirão Preto e 8º Encontro Multidisciplinar dos Transtornos de Aprendizagem e de Atenção, que ocorrera em Marília, no ano passado (2017). O trabalho intitulado “O desenvolvimento das habilidades sociais e do senso de autoeficácia por meio das Assembleias de Classe” recebera duas premiações. Primeiro, como um dos 10 melhores trabalhos apresentados na modalidade de pôster, na categoria “educador” e depois como o melhor trabalho apresentado na modalidade de relato de experiência, respectivamente. Não posso deixar de agradecer a gestão e ao corpo docente da escola “Elvira Arruda” que autorizou e mais do que isso, acreditou que a democracia tinha que fazer parte da vida daquelas crianças.
No ano passado, tive a oportunidade de conhecer o trabalho de um Núcleo de Inclusão e Acessibilidade, destinado a indivíduos que cursam graduações diversas e que enfrentam dificuldades advindas de diferentes nuances: sociais, emocionais, cognitivas e etc. Foi uma experiência única, que infelizmente terminou, por uma outra grande realização pessoal que se iniciou. O mestrado, surgiu inicialmente como uma possibilidade e depois, passou a ser uma meta. Foram muitas leituras, pesquisas, aulas, incentivos de pessoas que sempre acreditaram em mim. Por fim, tudo valeu a pena.
Fazer toda essa retrospectiva me emociona. Sempre tive ao meu lado, uma família que sempre me apoiara, um companheiro que sempre renovara meus ânimos, mesmo quando tudo parecia estar perdido, amigos e pessoas especiais que entraram em minha vida para fazerem a diferença e que eu não posso correr o risco de citar nomes, especialmente porque não quero cometer o pecado do esquecimento, enfim, foram essas pessoas, que me ajudaram a chegar até aqui.
Também não posso deixar de agradecer àqueles que estão comigo, todos os dias da minha semana. Aos pais, que estiveram comigo ao longo de todos esses anos e aos que passarão pelo meu consultório. Aos professores, cuidadores, coordenadores e diretores que se engajam e se comprometem com responsabilidade, em ofertar aos seus alunos, possibilidades para se desenvolverem integralmente. Obrigada por manterem as portas das escolas sempre abertas e pelo acolhimento que sempre tiveram comigo.
Atuar nessa área é sem dúvida, um grande desafio, mas todos os ensinamentos e experiências que foram compartilhadas, me fizeram acreditar que a educação de qualidade pode ser sim, um direito de todos indistintamente e acima de tudo, que todos nós podemos aprender, independentemente das condições que nos são impostas.
NOVA PREMIAÇÃO
Nos dias 24 e 25 de agosto, ocorrera em Ribeirão Preto, mais um Congresso Aprender Criança. O evento, que acontece a cada dois anos, teve como tema principal “Games, mídias e o cérebro infantil: novos desafios para a educação”. Os palestrantes nacionais e internacionais, de áreas como psicologia, neurologia, neuropsicologia, pediatria, fonoaudiologia e pedagogia se uniram para trazerem pesquisas baseadas em evidências científicas, sobre o uso das tecnologias, na infância.
Diversos profissionais, puderam submeter trabalhos que foram realizados com crianças e adolescentes, tanto no contexto institucional quanto clínico e mais uma vez, eu estava lá.
Dessa vez, o grande desafio foi apresentar para uma comissão científica de peso, um trabalho que vem sendo desenvolvido por mim, juntamente com alguns pacientes, que têm como queixa, prejuízos significativos no funcionamento executivo (memória, atenção, organização, planejamento e flexibilidade cognitiva). O trabalho intitulado “O Método Glia como instrumento facilitador no trabalho com as funções executivas, saúde mental, resiliência, habilidades metacognitivas e sociais” foi premiado em 3º lugar na categoria terapeuta.
QUANDO PROCURAR UM PSICOPEDAGOGO?
Acredito que o maior desafio educacional da atualidade é lidar com a diversidade. As dificuldades de aprendizagem, são apenas os sinais que podem ser vistos e percebidos pelos docentes e pelas famílias. O papel do psicopedagogo, é exatamente investigar e compreender as causas dessas inabilidades. Por meio de instrumentos específicos da pedagogia e psicopedagogia, juntamente com outros instrumentos destinados a profissionais da área, o psicopedagogo avalia tudo que interfere negativamente no processo de aprendizagem da criança. As causas, podem ser de origem orgânica, pedagógica, social, emocional, familiar, cognitiva, cerebral, escolar e funcional. Transtorno não é dificuldade de aprendizagem! É preciso distinguir ambos os casos.
A psicopedagogia está voltada ao atendimento de crianças com dificuldades de aprendizagem dentro do contexto clínico ou institucional. Atualmente também vem contribuindo na área da prevenção das dificuldades de aprendizagem, bem como desenvolvendo programas que visam promover a integração dos alunos com dificuldades, transtornos de aprendizagem e deficiência. Dentre os distúrbios mais comuns estão: TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), Dislexia (Distúrbio Específico da Leitura), Disgrafia (Distúrbio Específico da Escrita Caligráfica), Disortografia (Distúrbio Específico da Escrita Ortográfica) e Discalculia (Distúrbio Específico da Matemática).
Escola e família, são constantemente envolvidas no trabalho e são eles, que se constituem em grandes pilares do plano terapêutico, resultando ou não, no sucesso e na evolução de cada indivíduo.
É importante conscientizar os pais, de que, fazer a tarefa de casa com a criança, possibilita a percepção de inúmeras dificuldades. A maioria destas, que chegam para o atendimento clínico, possui entre 8 e 10 anos, geralmente quando há risco de reprova no final do ciclo de alfabetização (3º ano do E.F.). O ideal é procurar um profissional o quanto antes, para que a criança receba intervenções e estimulações adequadas e que todos os envolvidos possam receber orientações a fim de minimizar o impacto dessas dificuldades na vida do sujeito.
Érika de Cássia Lopes Silva
Graduada em Pedagogia, com especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional e em Ética, Valores e Cidadania na Escola. Possui extensão em Distúrbios Emocionais e Comportamentais da Infância e Adolescência, Neuropsicopedagogia e aprimoramento em Transtornos Neurofuncionais do Desenvolvimento. Já atuou como coordenadora pedagógica na rede particular, como professora PEB I na rede municipal e como integrante do Núcleo de Inclusão e Acessibilidade (NIA) do Centro Universitário Barão de Mauá. Atualmente trabalha como psicopedagoga clínica em consultório particular e como docente do curso de Psicopedagogia da mesma universidade. Mestranda em Educação Profissional e Tecnológica.
Clínica DeltaPi
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